A colite ulcerativa é uma doença intestinal inflamatória crônica em que o intestino grosso (cólon) fica inflamado e ulcerado (com perfuração ou erosão), causando exacerbações (ataques ou crises) de diarreia com sangue, cólicas abdominais e febre. O risco de longo prazo de ter câncer de cólon é maior em comparação com pessoas que não têm colite ulcerativa.
- A causa dessa doença é desconhecida.
- Os sintomas característicos durante as crises incluem cólicas abdominais, urgência para defecar e diarreia (geralmente com sangue).
- O diagnóstico é baseado em uma sigmoidoscopia ou, às vezes, em uma colonoscopia.
- Pessoas que tiveram colite ulcerativa por muito tempo podem desenvolver câncer do cólon.
- O tratamento tem como objetivo controlar a inflamação, reduzir os sintomas e repor qualquer perda de líquidos e nutrientes
(consulte também Considerações gerais sobre a doença intestinal inflamatória (DII)).
A colite ulcerativa pode começar em qualquer idade, porém, geralmente, começa antes dos 30 anos, geralmente entre 14 e 24. Um pequeno grupo de pessoas têm seu primeiro ataque entre os 50 e 70 anos.
A colite ulcerativa geralmente começa no reto (proctite ulcerativa). A doença pode ficar confinada ao reto ou passar para todo o cólon ao longo do tempo. Em algumas pessoas, a maior parte do intestino grosso é afetada de uma vez.
A colite ulcerativa não afeta a parede do intestino grosso em toda sua espessura e, raramente, afeta o intestino delgado. As partes afetadas do intestino têm úlceras (feridas) rasas. Ao contrário da doença de Crohn, a colite ulcerativa não causa fístulas ou abscessos.
A causa da colite ulcerativa é desconhecida, porém, fatores hereditários e uma resposta imunológica intestinal exagerada parecem contribuir para sua ocorrência. O tabagismo, que parece contribuir para o desenvolvimento e ocorrência de episódios periódicos de doença de Crohn, aparentemente reduz o risco de colite ulcerativa. No entanto, desaconselha-se fumar para reduzir o risco de desenvolver colite ulcerativa devido a todos os problemas de saúde causados pelo tabagismo.
Sintomas da colite ulcerativa
Os sintomas da colite ulcerativa ocorrem em crises. Às vezes, a crise é repentina e grave, causando diarreia violenta, geralmente com muco e sangue, febre alta, dor abdominal e, ocasionalmente, peritonite (inflamação do revestimento da cavidade abdominal). Durante tais episódios, a pessoa fica profundamente doente. Mais frequentemente, as crises começam de forma gradual, fazendo com que a pessoa sinta uma necessidade urgente de defecar (evacuar), cólicas leves na região inferior do abdômen e presença de sangue e muco visíveis nas fezes. Um episódio pode durar dias ou semanas e reaparecer a qualquer momento.
Quando a doença se limita ao reto e ao cólon sigmoide, as fezes podem ser normais ou duras e secas. Porém, muco contendo muitas hemácias e leucócitos é expelido pelo reto durante ou entre as evacuações. As pessoas podem ou não apresentar sintomas gerais leves da doença, como febre.
Se a doença se estender para partes mais altas do intestino grosso, as fezes ficam muito moles e a pessoa pode ter mais de 10 evacuações por dia. Frequentemente, a pessoa tem cólicas abdominais intensas e espasmos retais dolorosos e incômodos, acompanhados de urgência para evacuar. Não há melhora durante a noite. As fezes podem ser líquidas ou conter muco. Com frequência, as fezes são praticamente constituídas por sangue e pus. A pessoa também pode apresentar febre, falta de apetite e perda de peso.
Complicações da colite ulcerativa
As principais complicações da colite ulcerativa incluem
- Hemorragia
- Colite fulminante (colite tóxica)
- Câncer de cólon
Sangramento, a complicação mais frequente, geralmente causa anemia por deficiência de ferro.
A colite fulminante (também chamada de colite tóxica) é uma complicação especialmente grave. Em quase 10% das pessoas que apresentam colite ulcerativa, um primeiro ataque rapidamente progressivo torna-se muito grave, com hemorragia intensa, ruptura (perfuração) do cólon ou infecção disseminada. Danos aos nervos e aos músculos da parede intestinal causam íleo paralítico (um quadro clínico no qual os movimentos de contração normais da parede intestinal param temporariamente) o que faz com que o conteúdo do intestino não transite adequadamente. Desenvolve-se uma expansão (distensão) abdominal.
À medida que a colite fulminante piora, o intestino grosso perde seu tônus muscular e começa a se distender em poucos dias — ou mesmo horas (um quadro clínico algumas vezes referido como megacólon tóxico). Essa complicação pode causar febre alta e dor abdominal. Às vezes, há perfuração do intestino grosso e a pessoa desenvolve peritonite. Radiografias abdominais podem mostrar a expansão do intestino e a presença de gás dentro da parede das seções paralisadas do intestino.
O câncer do cólon começa a se tornar mais comum cerca de sete anos após o início da colite ulcerativa em pessoas com colite extensa. O risco de câncer de cólon é maior quando todo o intestino grosso é afetado e aumenta proporcionalmente ao tempo em que a colite ulcerativa está presente. Após 20 anos de doença, cerca de 7 a 10% das pessoas terão desenvolvido câncer, e após 35 anos de doença, até 30% das pessoas terão desenvolvido câncer. No entanto, as pessoas que apresentam ambas a doença intestinal inflamatória e a inflamação dos canais biliares (colangite esclerosante primária) estão em elevado risco de câncer de cólon, a partir do momento em que a colite é diagnosticada.
Aconselha-se a colonoscopia (exame do intestino grosso utilizando um tubo flexível para visualização) a cada um ou dois anos para pessoas que têm colite ulcerativa presente há mais de oito a dez anos ou que apresentam colangite esclerosante primária. Durante a colonoscopia, são coletadas amostras de tecido de áreas ao longo do intestino grosso para exame ao microscópio para detectar sinais precoces de câncer (displasia). Essa remoção e exame de tecido é chamada biópsia. Em um novo tipo de colonoscopia chamada cromoendoscopia, corantes são inseridos no cólon durante a colonoscopia para destacar áreas cancerosas (malignas) e pré-cancerosas e podem ajudar o médico a identificar áreas para biópsia.
Outras complicações podem surgir, como na doença de Crohn. Quando a colite ulcerativa provoca uma crise de sintomas gastrointestinais, a pessoa também pode apresentar o seguinte:
- Inflamação nas articulações (artrite)
- Inflamação na parte branca dos olhos (episclerite)
- Nódulos cutâneos inflamados (eritema nodoso)
Quando a colite ulcerativa não estiver causando uma crise de sintomas gastrointestinais, a pessoa pode ainda assim apresentar complicações que ocorrem sem absolutamente nenhuma relação com a doença intestinal como, por exemplo:
- Feridas cutâneas de cor violeta que podem conter pus (pioderma gangrenoso)
- Inflamação da coluna vertebral (espondilite anquilosante)
- Inflamação das articulações pélvicas (sacroileíte)
- Inflamação do interior dos olhos (uveíte).
Embora a pessoa com colite ulcerativa geralmente tenha disfunção hepática leve, apenas aproximadamente 1 a 3% têm sintomas de doença hepática, que pode variar de leve a grave. As doenças hepáticas graves podem incluir inflamação do fígado (hepatite crônica ativa), inflamação dos dutos biliares (colangite esclerosante primária), que se estreitam e, por fim, se obstruem, bem como substituição do tecido hepático funcional por tecido cicatricial (cirrose). A inflamação dos dutos biliares pode aparecer muitos anos antes de qualquer sintoma intestinal de colite ulcerativa. A inflamação aumenta muito o risco de câncer dos dutos biliares e parece estar associada com um súbito aumento do risco de câncer de cólon.
Diagnóstico da colite ulcerativa
- Exames de fezes
- Sigmoidoscopia
- Exames de sangue
- Exames de diagnóstico por imagem
O médico suspeita de colite ulcerativa em uma pessoa com diarreia sanguinolenta recorrente, acompanhada de cólicas e urgência para defecar, particularmente se a pessoa tiver outras complicações, como artrite ou problemas hepáticos e um histórico de ataques similares.
O médico examina as fezes na tentativa de encontrar parasitas, descartar a hipótese de infecções bacterianas e avaliar o grau de inflamação.
A sigmoidoscopia (um exame do cólon sigmoide utilizando um tubo de visualização flexível) confirma o diagnóstico de colite ulcerativa. Este procedimento permite que um médico observe diretamente a gravidade da inflamação, colete amostras de muco ou fezes para cultura, e remova amostras de tecido das áreas afetadas para exame ao microscópio (chamada biópsia). Mesmo durante os intervalos sem sintomas, o intestino raramente tem um aspecto totalmente normal e o exame ao microscópio das amostras de tecido coletadas geralmente mostra inflamação crônica. Geralmente, não é necessário colonoscopia, mas o médico pode precisar fazer uma, se a inflamação passar para além do alcance do sigmoidoscópio.
Exames de sangue não confirmam o diagnóstico de colite ulcerativa, mas podem revelar que a pessoa está com anemia, aumento do número de glóbulos brancos (ocorre com inflamação), um nível baixo da proteína albumina, velocidade de hemossedimentação (VHS) elevada ou nível elevado da proteína C-reativa, que também indicam a presença de inflamação ativa. É possível que o médico também realize provas de função hepática.
Radiografias abdominais realizadas após bário ser administrado por enema (chamado enema de bário) podem indicar a gravidade e a extensão da doença, mas não são feitas quando a doença está ativa, como durante uma crise, devido ao risco de estar causando uma perfuração. Outras radiografias abdominais também podem ser realizadas.
Sintomas recorrentes ou graves de colite ulcerativa
O médico examina a pessoa quando os sintomas característicos retornam, mas nem sempre faz exames. Se os sintomas forem mais frequentes ou durarem mais do que o habitual, o médico pode fazer uma sigmoidoscopia ou colonoscopia e um hemograma. O médico pode realizar outros exames para investigar infecção ou parasitas.
Quando os sintomas são graves, as pessoas são hospitalizadas. O médico realiza radiografias para investigar um intestino dilatado ou perfurado.
Prognóstico para colite ulcerativa
Em geral, a colite ulcerativa é crônica, com reincidências e remissões (períodos sem sintomas) que se repetem. A crise inicial progride rapidamente e resulta em complicação séria em cerca de 10% das pessoas. Outro 10% das pessoas se recuperam completamente após um único ataque. As demais têm algum grau de recorrência da doença.
O melhor prognóstico é para pessoas cuja doença é limitada ao reto (proctite ulcerativa). Complicações graves são improváveis. No entanto, em cerca de 20% a 30% das pessoas, a doença chega a se estender até o intestino grosso (convertendo-se, assim, em uma colite ulcerativa). Em pessoas que têm proctite que não se disseminou, raramente é necessária cirurgia, as taxas de câncer não são maiores e a expectativa de vida é normal.
Câncer de cólon
A taxa de sobrevivência de longo prazo para pessoas que sofrem de câncer do cólon causado pela colite ulcerativa é de cerca de 50%. A maioria das pessoas sobrevive se o diagnóstico for realizado nos estágios iniciais da doença e o cólon for removido em tempo.
Tratamento da colite ulcerativa
- Controle de dieta e loperamida
- Aminossalicilatos
- Corticosteroides
- Medicamentos imunomoduladores
- Agentes biológicos e relacionados
- Às vezes, cirurgia
O tratamento da colite ulcerativa tem como objetivo controlar a inflamação, reduzir os sintomas e repor qualquer perda de líquidos e nutrientes.
O tratamento específico depende da gravidade dos sintomas da pessoa.
Fonte: https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/dist%C3%BArbios-digestivos/doen%C3%A7as-intestinais-inflamat%C3%B3rias-dii/colite-ulcerativa